sábado, 9 de julho de 2011

A Beleza da Unidade na Diversidade


          
            Do Caos, segundo os gregos; do Oceano Primordial, Nun, segundo os egípcios; de um pequeno ponto onde se concentrava toda a matéria do universo, segundo os físicos; e de um primeiro ancestral comum, de acordo com os biólogos. É fato que grande parte dos antigos mitos cosmogônicos e das atuais teorias científicas sobre a origem do universo e da vida estão em consonância, mesmo que de forma sutil, quando tratam do surgimento de tudo que existe vindo de uma única fonte ancestral.
            Observo que houve uma separação, diversificação, dispersão de tudo o que há, e que o que se busca é novamente a agregação de tudo à unidade inicial. O universo é testemunha disso: os grandes corpos celestes se atraem mutuamente até colidirem uns contra os outros e se fundirem; os seres vivos buscam instintivamente a reprodução: momento em que dois organismos tornam-se um, aptos a gerar novos seres; singamia, palavra repleta de significado.
            A natureza funciona em interdependência. Num delicado e esplêndido equilíbrio que envolve todos os átomos no orbe, numa incessante interconversão, que mais parece mágica. No entanto, quando aparece o ser racional, com seu discernimento, ele enxerga e classifica tudo como diferente, em separado de si. A individualização é um processo importante, mas que acaba por se extrapolar num individualismo-egoísmo que eleva uma cerca ao redor do “eu” delimitando-o do “não-eu”. Aí a diversidade se torna estranha, até mesmo patológica e quebra-se temporariamente o perfeito equilíbrio da natureza.
            Chega um momento, porém, em que o ser realiza que a completude depende da agregação (Eros), que o diferente lhe faz bem, pois ensina aquilo que ele até então desconhecia. E aí ele se torna mais inteiro, carregando um pedacinho de cada um com que aprendeu algo. O estado de equilíbrio só existe pela coexistência e cooperação de forças opostas, que se somam, e só assim funcionam perfeitamente.
            É um pouco difícil me expressar nisso que mais parece um ensaio, mas é impossível me restringir a um único nível, o humano talvez, quando a unicidade abrange tudo o que se pode ver e também aquilo que ainda nos é intangível. Apreendo que a coexistência e interdependência são expressões da unicidade, da integração máxima dos componentes universais, ao passo que a diversidade permite a especialização de atuações que mantém o estado unificado da teia da existência.

* Na imagem: Alapadma Mudra representa a criação dos elementos, a criação do universo. Como um lótus a desabrochar.